Moçambique. Quase 100 mil deslocados nas últimas duas semanas
- 02/12/2025
Em comunicado, o ACNUR assumiu estar "profundamente preocupado com a intensificação dos ataques a aldeias e a rápida propagação do conflito para distritos anteriormente seguros", que forçam "dezenas de milhares de pessoas a fugir pelo norte de Moçambique, com quase 100 mil deslocados apenas nas últimas duas semanas".
Em causa está o alastrar destes ataques, que ocorrem há oito anos em Cabo Delgado, para a vizinha província de Nampula, nomeadamente várias aldeias do distrito de Memba.
"À medida que as necessidades aumentam a uma velocidade sem precedentes, a capacidade dos atores humanitários e governamentais não acompanha o ritmo, e os esforços coletivos continuam insuficientes para atender à escala de proteção e assistência necessária no terreno. Pessoas que conseguiram chegar em segurança relatam que fugiram com medo, enquanto grupos armados invadiam suas aldeias -- frequentemente à noite -- incendiando casas, atacando civis e forçando famílias a fugir sem nada", descreve o ACNUR.
Por outro lado, acrescentou que os deslocados relatam "fugas caóticas, com pais perdendo os filhos de vista e parentes idosos ficando para trás no meio do pânico".
Na mesma nota, refere que a violência, que começou em Cabo Delgado em 2017, já deslocou mais de 1,3 milhão de pessoas no norte de Moçambique, mas que 2025 "testemunhou uma mudança perigosa", já que os ataques acontecem agora "simultaneamente e espalham-se para além de Cabo Delgado, atingindo a província de Nampula e ameaçando comunidades que anteriormente acolhiam famílias deslocadas".
"À medida que a violência se alastra rapidamente, os civis quase não têm aviso prévio e chegam a locais improvisados, incluindo escolas e espaços abertos, na província de Nampula. Muitos fogem sem qualquer documento civil e sem acesso a serviços essenciais, caminhando durante dias em extremo medo. A falta de rotas seguras e de apoio básico deixa as famílias, especialmente mulheres e meninas, em maior risco de exploração e abuso", salientou.
O ACNUR sublinha que "apesar dos recursos escassos (...) os parceiros de proteção reativaram e fortaleceram algumas estruturas de gestão e encaminhamento para fornecer às mulheres e meninas afetadas a possibilidade de denúncias confidenciais e acesso mais seguro a assistência médica, psicossocial e jurídica".
"Escolas, igrejas e espaços abertos estão lotados de famílias recém-chegadas, muitas dormindo ao relento. A falta de iluminação e privacidade nesses abrigos comunitários expõe mulheres e meninas, que já enfrentaram jornadas perigosas em busca de segurança, a novos riscos de violência sexual e de género, enquanto idosos e pessoas com deficiência lutam em locais inacessíveis ou sem a infraestrutura adequada às suas necessidades", apontou igualmente, acrescentando casos de crianças que "chegaram exaustas, traumatizadas e debilitadas após dias de caminhada, algumas desnutridas e com os pés inchados".
A agência da ONU alertou que a resposta humanitária está a ficar "sem recursos, à medida que as necessidades aumentam a cada dia, deixando milhares de famílias em situação de incerteza".
"Com o deslocamento aumentando rapidamente e com poucos recursos disponíveis para o último mês do ano, serviços essenciais -- incluindo proteção, abrigo, alimentação, água e saneamento -- estão sob forte pressão", acrescentou.
O ACNUR reconhece necessitar de 38,2 milhões de dólares (32,8 milhões de euros) em 2026 "para atender às crescentes necessidades no norte de Moçambique", num "momento profundamente preocupante", já que para o financiamento necessário para 2025, de 42,7 milhões de dólares (36,7 milhões de euros), apenas 50% foi garantido.
"É necessário apoio urgente para evitar que a crise se agrave", apelou o ACNUR.
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