Em caso de guerra com os EUA, aliados da Venezuela defenderão o país?
- 02/12/2025
Com a crescente tensão que a Venezuela enfrenta perante o destacamento militar que Washington enviou para o mar das Caraíbas sob a égide de combater o narcotráfico, Caracas tem apresentado uma postura diplomática que oscila entre mensagens de paz e a promessa de uma resposta forte a uma eventual invasão dos Estados Unidos.
Os aliados de Caracas, contudo, não são perentórios se o seu apoio ao país latino-americano reverterá numa aliança militar em caso de agressão norte-americana.
Eis alguns pontos essenciais sobre as posições dos aliados da Venezuela:
Rússia: abrir uma segunda frente seria demasiado para o Kremlin
A Rússia defendeu verbalmente Maduro desde o início com declarações do Kremlin, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e de ambas as câmaras do Parlamento, mas são poucos os analistas locais e estrangeiros que acreditam que Moscovo o fará também na prática e abrirá uma segunda frente face ao seu atual antagonismo com o ocidente.
Maduro falou de uma estreita cooperação militar com Moscovo, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, negou categoricamente as informações de que Caracas tenha solicitado oficialmente ajuda militar.
A única coisa que se sabe com certeza é que, no final de outubro, um avião de carga militar russo Il-76 aterrou em Caracas. Um deputado conhecido pelas suas declarações polémicas, Alexei Zhuravliov, disse que o avião transportava sistemas de defesa antiaérea, mas essas informações ficaram por ser confirmadas.
Após o início da crise entre Caracas e Washington, o Presidente russo, Vladimir Putin, promulgou o acordo de cooperação e parceria estratégica assinado em maio, compromisso que ratificou há uma semana numa carta dirigida a Maduro, segundo o chefe de diplomacia venezuelano, Yván Gil.
Num ato de alicerçar as suas relações com o Kremlin, Caracas prorrogou nos últimos dias por 15 anos a operação de duas petrolíferas mistas russo-venezuelanas e também decidiu aumentar os voos para Moscovo após o cancelamento das licenças de seis companhias aéreas.
China: aliada diplomática
O Governo chinês garantiu que a sua cooperação com a Venezuela se desenvolve "entre Estados soberanos e não é dirigida contra terceiros", ao mesmo tempo que instou Washington a manter a cooperação judicial e policial dentro dos "quadros jurídicos bilaterais e multilaterais".
Pequim e Caracas não têm nenhum acordo público em matéria de defesa, embora o país latino-americano compre armamento ao seu aliado asiático.
O apoio chinês ao Governo venezuelano face ao destacamento militar norte-americano nas Caraíbas durante os últimos meses não foi além de declarações diplomáticas de apoio.
A China "opõe-se a qualquer tentativa de minar a paz e a estabilidade na América Latina e nas Caraíbas, bem como a ações coercivas unilaterais contra navios de outros países que excedam os limites razoáveis e necessários", sublinhou em novembro a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning.
Nos últimos anos, o país asiático manteve-se como um dos aliados mais firmes do Governo de Maduro na Venezuela e criticou repetidamente as "ingerências de forças externas" no país.
Irão: o aliado enfraquecido
O Irão pediu respeito pela soberania nacional e integridade territorial da Venezuela face ao destacamento militar dos Estados Unidos nas Caraíbas.
No início de novembro, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Ismail Baghaei, afirmou numa conferência de imprensa que "a Venezuela, como país independente e com um povo firme e decidido, será sem dúvida plenamente capaz de se defender por si própria".
Baghaei considerou que os recentes movimentos militares dos Estados Unidos nas proximidades das águas venezuelanas constituem uma «violação clara» da Carta das Nações Unidas.
Há três anos, os dois países oficializaram a sua aliança com a assinatura de um acordo de cooperação estratégica de vinte anos "em todas as áreas", durante uma visita de Maduro ao país persa, embora não se saiba se o acordo de 2022 tem uma dimensão militar ou de defesa.
Apesar de ser um dos seus aliados mais próximos, é muito improvável que o Irão entre em conflito caso os Estados Unidos invadam a Venezuela, concordam os analistas, e menos ainda após os golpes sofridos na guerra de 12 dias em junho com Israel.
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