Ângelo Girão já girou entre stick e novela: "Desafios novos excitam-me"

  • 02/12/2025

Ângelo André Ferreira Girão é um nome incontornável na história do hóquei em patins, modalidade da qual deixou de fazer parte há, sensivelmente, meio ano, sendo que, ainda antes desse ponto final na carreira, houve espaço para presenças curiosas em televisão.

 

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Ângelo Girão aceitou ser o sexto convidado da rubrica 'Eu "show" de bola' (lançada na primeira semana de cada mês), em que se pretende perceber melhor o que faz alguém 'viajar' do desporto para o mundo do entretenimento. E que longa viagem...

Consagrado como um dos atletas mais marcantes na história do hóquei em patins português, o antigo guarda-redes conquistou tudo o que havia para conquistar na modalidade, tanto ao serviço do Sporting, como da seleção nacional.

Pelo meio, Ângelo Girão somou uma participação especial na novela Festa é Festa, na TVI, para além de outros formatos de entretenimento nos principais canais televisivos. Por esta altura, dar uma nova 'stickada' na televisão não é uma prioridade para alguém que se tem dividido por vários negócios, pese embora tenha dado que falar como comentador da RTP, na fase final do Europeu de hóquei em patins, conquistado por Portugal, no passado mês de setembro.

Afinal, o que motiva alguém apaixonado pelo desporto a 'abraçar' o ramo do entretenimento a certa altura da sua vida? É o próprio Ângelo Girão que nos explica.

Como sempre gostei de jogar no Sporting, nunca olhei sequer para outros convites com bons olhos.Sempre sonhou ser jogador de hóquei em patins?

Sempre, sempre. O meu irmão era guarda-redes de hóquei e eu sempre quis ser igual ao meu irmão. Era o meu ídolo quando eu era mais novo. As coisas foram acontecendo, e eu fui para a baliza, muito por causa dele. Acabei por fazer uma carreira bonita. Comecei no Estrela e Vigorosa Sport, estive 11 anos na formação do FC Porto e, no meu último ano de júnior, saí para o Gulpilhares. Depois, fui para os séniores da Académica de Espinho, até chegar ao Sporting.

Foi precisamente no Sporting que cumpriu grande parte da carreira. Nunca houve oportunidade de sair para outro clube ou até para o estrangeiro?

Houve, houve. O Sporting fez contratos muito longos e deu-me estabilidade. Sentia-me feliz no clube e, como sempre gostei de jogar no Sporting, nunca olhei sequer para outros convites com bons olhos. 

Sentia que o Sporting era a sua casa?

Sem dúvida alguma...

Notícias ao Minuto Ângelo Girão conquistou 19 troféus a título coletivo ao longo da carreira, principalmente ao serviço do Sporting e da seleção nacional.© Reprodução Instagram Ângelo Girão  

O Ângelo Girão tornou-se num dos jogadores com mais jogos da história da modalidade no Sporting, para além de, na seleção nacional, ser o segundo guarda-redes de sempre com mais duelos. É um estatuto que pesa?

Não… Nunca olhei muito para dados, no sentido de atingir números ou o que quer que fosse. Sempre olhei muito para o que conseguia fazer dentro de campo, para ganhar títulos. Era um objetivo claro. Nunca tive a vida facilitada. Tudo está relacionado com timings de carreira, até porque o hóquei foi mudando ao longo do tempo. Houve muita dificuldade em chegar ao topo. Agora, olhamos para Sporting, FC Porto, Benfica, Oliveirense e OC Barcelos no topo, mas, antes, as únicas equipas mesmo grandes na altura eram FC Porto e Benfica. Tive de fazer um caminho difícil.

Consegui títulos, que podem não ser muito importantes para outras pessoas, mas para mim são. Por exemplo, a Académica de Espinho nunca tinha ficado dois anos seguidos na primeira divisão, mas, nos anos todos em que eu lá estive, com os meus companheiros, conseguimos fazer com que a Académica nunca descesse. No Valongo, conseguimos um quarto lugar no primeiro ano, e fomos campeões nacionais no segundo. Foi um título inédito. O Sporting era um clube grande em nome, mas, em termos de estrutura e equipa, demorou alguns anos até chegar lá. Aos olhos dos outros, há títulos que parecem coisas fáceis, mas, há dez anos, ninguém olhava para o Sporting [no hóquei]. Lembro-me, nos primeiros anos, da dificuldade que havia em contratar jogadores, no Sporting. Os números, a mim nunca me importaram. Importava-me era chegar lá acima e ganhar de forma sistemática. É disso que mais me orgulho na minha carreira.

Na seleção, vínhamos de uma geração que nunca chegava às finais, com uma geração espanhola fortíssima pela frente. Esta geração conseguiu destronar essa parte. Conseguimos ser campeões da Europa, ser campeões do mundo, ganhar Taças das Nações... Se calhar, não com a regularidade que eu achava que devíamos ter, mas conseguimos, e isso é importante.

Quando percebi que não ia renovar com o Sporting, mesmo nunca tendo tido a intenção de acabar a carreira este ano, decidi começar a trabalhar extra-hóquei para preparar o meu futuro.No Sporting, houve um trabalho de continuidade de Frederico Varandas após a presidência de Bruno de Carvalho?

Acho que sim, de maneiras diferentes. O único amargo de boca que tenho no Sporting é que a sucessão de uma geração que deu tanto ao clube poderia ter sido feito de outra maneira. Não foi bem planeado. Acontece. Acho que, este ano, o Sporting tem uma equipa jovem, mas com muito potencial. Para mim, se não é a melhor equipa, é a par do Benfica, a melhor equipa a nível mundial, mas acho que esta renovação podia ter sido feita ao longo dos anos, para que nós pudéssemos estar mais perto de ganhar mais títulos. 

Por que motivo terminou a carreira aos 35 anos?

Tive duas propostas boas para ir jogar para o Norte [de Portugal], mas, quando percebi que não ia renovar com o Sporting, mesmo nunca tendo tido a intenção de acabar a carreira este ano, decidi começar a trabalhar extra-hóquei para preparar o meu futuro. O Sporting já não me queria. Decidi levar mais a sério os negócios que sempre fiz fora do hóquei. Sempre os fui fazendo. As empresas começaram a trabalhar bem, passei a ter outras coisas para pensar. Eu podia muito bem jogar durante mais dois ou três anos, mas ia atrasar, se calhar, aquilo que fiz até agora. Ir para o norte já não era aliciante, dado que tinha as empresas a trabalhar bem. Tive um convite que quis muito, do OC Barcelos, mas chegou muito tarde. Depois de planear a minha vida familiar, não consegui dar seguimento a esse convite, com muita pena minha.

Por que diz que o Sporting já não o queria?

O clube tomou uma decisão, na parte diretiva, de não me querer, nem para primeiro, nem para segundo guarda-redes. Temos exemplos assim no Benfica, como o Pedro Henriques. Ou o Filipão, no FC Porto. O Sporting tomou a decisão de não querer ficar comigo e eu percebi isso, ainda estava eu no estágio [de Portugal] para o Mundial na Argentina. Os meus agentes avisaram-me que o Sporting não contava comigo para ficar lá. Não são quatro ou cinco pessoas que definem um clube. O clube é mais que isso. Continuei a fazer o meu trabalho, porque devia muito ao Sporting, enquanto clube, bem como aos adeptos do Sporting. Tenho muito amor e caminho por eles, mas nada disso ia impedir que eu desse o melhor de mim em todas as alturas.

Nunca vai haver ninguém que possa dizer que eu não dei tudo pelo Sporting.

Sente que saiu a bem do Sporting?

Sim, saio em paz comigo, acima de tudo. Nunca vai haver ninguém que possa dizer que eu não dei tudo pelo Sporting. O feedback que eu tenho de todas as pessoas com quem vou falando, desde adeptos a ex-colegas e treinadores, é que as pessoas gostam de mim e estão agradecidas por tudo o que fiz pelo clube. Isso deixa-me o paz de espírito gigante. 

Fale-nos da emoção que sentiu na despedida no Pavilhão João Rocha [eliminação aos pés do FC Porto no acesso à final do campeonato], na passada temporada.

Não era a homenagem que eu queria. Queria sair com o título de campeão nacional, mas o único amargo de boca que fica, ao longo destes anos de carreira, prende-se com os títulos que acho que podia ter ganho, mas que não ganhei por um ou outro motivo.

Arrepende-se de algo durante toda a carreira?

Arrependo-me de várias atitudes impulsivas que tive. Já falei disso... Fazem parte da juventude, da idade. Depois, ao longo do tempo, vamos amadurecendo e vamos mudando. Situações específicas? Prefiro não individualizar, mas arrependo-me de algumas coisas, claro.

Como surgiu o convite para participar na novela 'Festa é Festa', da TVI?

[risos] Depois do Mundial tive a oportunidade de ir ao programa da Cristina Ferreira e criei uma ligação com ela. É uma pessoa por quem eu tenho muito respeito, de quem eu gosto e que só me fez bem. Um dia, a Cristina Ferreira ligou-me a dizer que iam começar a produzir uma novela e que o hóquei em patins ia fazer parte. Perguntou-se eu não estivesse interessado. Eu disse que não tinha jeito nenhum para a televisão, que nunca fiz uma novela. Ela respondeu-me 'Vais gostar. Anda, que vais gostar'. Chegámos ali a um acordo, e até achei que podia ser uma coisa divertida. Ela ajudou-me bastante. Foi uma pessoa muito importante nessa fase da minha carreira. Deu-me uma oportunidade para fazer coisas que eu nunca pensei ou imaginei fazer. Vou-lhe ser eternamente agradecido. Gosto muito dela.

Notícias ao Minuto Antigo guarda-redes de hóquei em patins aventurou-se na novela Festa é Festa, da TVI, em 2021, convivendo de perto com grandes atores portugueses.© Reprodução Instagram Ângelo Girão  

Teve de repetir muitas cenas?

Não te sei dizer… Foi complicado. O Pedro Teixeira foi mil estrelas na altura. Ajudou-me bastante. Ri-me bastante a fazer algumas coisas. Nunca pensei fazer uma novela. Nunca pensei ir à televisão tantas vezes. Ficam as recordações para, mais tarde, mostrar aos meus filhos, recordar e pensar que foi uma fase muito bonita da minha vida, mais a nível social. Não tinha qualquer expetativa, nem de fazer, nem de continuar a fazer. Fiquei naquele grupo restrito de atletas do hóquei e de outras modalidades que participou nesses episódios, ou em eventos

Lembro-me que, na altura, também fui eleito o Desportiva do Ano pela GQ. Fiz capa da Men's Health. É um par de coisas gigantes que nunca pensei fazer e consegui, sem estar a contar. Tenho orgulho naquilo que consegui fazer fora do campo também. Publicidade? Foram muitas [campanhas]. Isso já é mais normal. Os atletas, hoje em dia, fazem campanhas de publicidade. É mais comum. Só que essas pequenas coisas que só um par de atletas fazem é que me deixa orgulhoso.

Como reagiu o plantel e a direção do Sporting ao saber que ia participar em coisas extra-campo?

Acho que nem tive qualquer contacto com a direção em relação a isso. Quanto ao plantel, foi muito engraçado. Houve dias em que levei festival no balneário. Uma vez, fiz uma sessão fotográfica para uma revista de moda francesa e, quando cheguei ao balneário, eles [jogadores] tinham fotografias minhas espalhadas. Ri-me bastante com momentos destes no balneário. Novela? Foi igual. O pessoal dava-me festival. Tinha amigos, noutras equipas, a ligar-me ou a mandar mensagens, a gozar. Tudo isso faz parte. Acho super saudável. Diverti-me bastante, não só a fazer, como com os feedbacks que recebi.

A minha vida profissional, neste momento, é completamente oposta à televisão. Se algum dia aparecer alguma coisa, logo verei.Gostava de repetir uma aventura do género atualmente?

Não tenho expetativas para isso. A minha vida profissional, neste momento, é completamente oposta à televisão. Se algum dia aparecer alguma coisa, logo verei. Não vou dizer que nunca vou fazer, mas, neste momento, nem sequer está em cima da mesa, nem sequer está no horizonte. Por isso, não é uma possibilidade neste momento.

Foi convidado para participar em programas de entretenimento?

Cheguei a ir à RTP com o Vasco Palmeirim e com a Tânia Ribas de Oliveira, num programa que tinha pontuações e desafios. Foi uma experiência muito divertida. Gosto muito deles. Estava lá o Toy também… Fiz tanta coisa nessa altura, na televisão, que não podia ter pedido muito mais fora do hóquei em patins. Lembro-me que fui também à SIC. Fui ainda condecorado pelo Presidente da República, por duas vezes. Lembro-me de ir a um programa em Belém, onde foram convidados 14 atletas para falar para os jovens que estão a iniciar a sua vida e vão olhando para nós como exemplos. 

No passado mês de setembro, esteve a comentar a fase final do Campeonato da Europa de hóquei em patins, vibrando como ninguém no dia da conquista. É um tipo de convite que pretende aceitar mais vezes?

Vou ser muito sincero. Foi uma experiência muito boa. Os meus parabéns ao Marco Hélio por me ter aturado aquela semana toda. Eu estava mesmo muito nervoso e o Marco foi excecional comigo mil estrelas. Acaba por ser um papel difícil para mim porque eu ainda estou muito ligado, emocionalmente, aos jogadores. Gosto muito daquelas pessoas que integraram a seleção. Estive com eles durante aquela semana. Falei com eles várias vezes e eu ainda estava muito ligado a eles. Sentia-me parte do grupo. Queria muito que eles ganhassem, principalmente, pela forma como a semana como correu e pelas críticas que eles sofreram. Eu sentia-me um bocado na pele deles. Sei o que é que eles estavam a passar e eu queria muito que eles ganhassem.

Foi uma vitória deles, mas também um bocado minha, enquanto português. Por isso é que eu não consegui depois desfazer o papel de adepto. Sinto que não fiz um trabalho profissional, por assim dizer. Estava na televisão e há coisas que não se podem dizer. Sei que o feedback foi positivo, mas enquanto eu ainda estiver tão ligado emocionalmente àquelas pessoas que ali estão, é difícil fazer um trabalho em condições. Eu não posso esquecer que estou a falar numa televisão pública. Acho que não recebi nenhuma crítica negativa, mas sinto que houve coisas que eu disse que não podia ter dito. Gosto de fazer as coisas bem e acho que falhou só esse capítulo.

Sente que a modalidade é desvalorizada em Portugal?

Sinto que é uma modalidade que, ao longo dos anos, tem perdido alguma credibilidade, muito por culpa dos intervenientes. As regras nunca parecem muito claras. Acho que, agora, estão mais claras, estão a dar mais facilidade aos árbitros para apitar. O Luís Sénica, presidente Federação de Patinagem de Portugal, tem feito um trabalho muito bom, em conjunto com o Orlando Panza. Há uma clarificação das regras ao máximo para que não haja segundas interpretações. Os jogadores tentam aproveitar-se sempre das regras, eu incluo-me. Os árbitros têm dias maus como nós, mas houve um conjunto de fatores bastante alargados para que o hóquei perdesse alguma credibilidade. Ainda assim, continuamos a ter o melhor campeonato do mundo. Está cada vez mais competitivo. É importante que as coisas se mantenham neste caminho para o hóquei retomar esse patamar de apreciação.

O que tem feito fora do ecrã e fora do desporto?

Para além dos negócios que faço, a nível particular, mais ligado ao imobiliário, tenho uma empresa de investimentos, um fundo imobiliário e uma creche. Dentro de poucos meses, tenho um processo na Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia para aprovação de abertura de um hotel canino. O meu sócio, o Filipe Sousa, ex-capitão da Académica de Espinho, contactou-me e avancei porque confio nele. São várias coisas a correr ao mesmo tempo. O fundo imobiliário e a empresa de investimentos são as coisas que me têm dado muito trabalho.

Que sonhos tem por concretizar, após uma carreira recheada de sucesso?

Neste momento, passa por aproveitar o tempo com a minha família. Tenho as minhas duas filhas, a minha mulher. Estamos a aproveitar este tempo novo que há em família. Estou muito focado nisto das empresas, que, sinceramente, não tenho muitos sonhos assim, para além de conseguir ser bem-sucedido, como sempre fui em tudo o que fiz na minha vida. Estes desafios novos excitam-me. A vida empresarial deu-me um bichinho diferente do hóquei, dado que agora é algo constante, diário.

O jogo do 'Prefere...?'

Preferia estar no entretenimento ou no desporto atualmente?

Se me dessem a escolher, no desporto.

Prefere ser reconhecido no futuro pelo que fez dentro de campo ou no entretenimento?

Dentro de campo.

Preferia ganhar o troféu da menor relevância possível ou ganhar um programa de entretenimento?

Um troféu no hóquei. 

Todas os meses o Desporto ao Minuto apresenta-lhe uma nova edição da rubrica 'Eu "show" de bola', em que se pretende perceber melhor o que faz alguém 'viajar' do mundo desportivo para a arte do entretenimento.

Leia Também: Quinaz foi do sonho do Benfica à TV: "Nunca mais entro num reality show"

Leia Também: Fernando Mendes 'vibra' na televisão: "Nunca recebi cartilha de ninguém"

Leia Também: Fábio Paím dá a cara: "Ajudo miúdos para não passarem pelo que passei"

Leia Também: Paulo Futre 'esfrega as mãos' por uma novela: "Gostaria de ser vilão"

Leia Também: "Disse que seria presidente do Sporting, cumpri. Agora quero outra coisa"

FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/desporto/2894507/angelo-girao-ja-girou-entre-stick-e-novela-desafios-novos-excitam-me#utm_source=rss-ultima-hora&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


#Compartilhe

Aplicativos


Locutor no Ar

Peça Sua Música

Top 5

top1
1. Quero Essa Mulher

Rui Bandeira

top2
2. Se Digo É Porque É

Sol Brilhante

top3
3. Meu Mundo

Duo Sol Nascente

top4
4. Eu Gosto Do Pilão

Rosinha

top5
5. Quero Ir À Romaria

7 Saias

Anunciantes